terça-feira, 30 de outubro de 2007

REVOLUÇÃO RUSSA: UM MARCO NA HISTORIA DA HUMANIDADE

A revolução Russa foi certamente o mais importante episódio da historia do século XX e ao mesmo tempo, o mais controverso e polemico nas suas interpretações. E não poderia ser diferente. Pela primeira vez na historia da humanidade, os oprimidos, trabalhadores, os explorados, destronaram as classes dominantes, abastadas, opressoras, e tomaram o poder político com as armas na mão.
 
Daí, não havia meio termo para sua avaliação. Ou defendia-se os rebelados debaixo, ou assumia-se os interesses dos poderosos destronados.
 
Muitos livros magníficos foram escritos descrevendo os detalhes e a natureza da que foi a primeira revolução popular vitoriosa da historia da humanidade. Recomendo que os mais jovens militantes busquem os clássicos sobre a historia da revolução russa, escritos por Isaac Deutscher, Leon Trotsky  e por John Reed.
 
Mas o espírito desses artigos, nessa interessante iniciativa formativa é  recolhermos algumas reflexões específicas que podem nos ajudar a compreender a importância da revolução russa para a luta de classes e para a militância social, nos dias de hoje.
 
E nesse sentido, queria comentar apenas dois aspectos, que em geral a esquerda brasileira não toma em conta. Tendo em mente que, certamente outros articulistas irão abordar temas mais candentes e reflexivos.
 
Primeiro, o momento histórico em que foi conseguido realizar a revolução social. A classe trabalhadora da Europa, vinha de várias derrotas políticas, desde a primeira experiência da comuna de Paris, e depois da revolução fracassada na Alemanha e de outros intentos de revoltas em outros países. Mesmo na Rússia, o ascenso de massas que resultou na revolta de 1905, havia sido derrotado. Lênin havia escrito em fevereiro de 1917, que provavelmente a sua geração não veria outro ascenso revolucionário.  E no entanto, a história social o denunciou. Fruto das contradições da sociedade russa e da agudização da exploração em função da primeira guerra mundial, o ambiente de desemprego, fome e falta de terra, levaram a que as massas russas criassem um potente movimento de massas aglutinado sob as bandeiras da necessidade de pão, terra e paz. E com isso se construiu uma imbatível aliança entre os oprimidos, representada pelos camponeses, soldados que se negavam a ir a guerra e os operários industriais.
 
E num processo muito rápido, entre fevereiro e outubro, se criaram as condições objetivas para a derrota da classe dominante.
 
O segundo aspecto, é que embora num ambiente de crise política, adverso para a classe trabalhadora desde 1905, formou-se uma corrente de militantes revolucionários em toda Rússia , que atuavam de forma clandestina, alimentados pelo ideal da possibilidade do socialismo, como forma de superação da exploração capitalista.  Havia muitas correntes com diferenças ideológicas pontuais.   E entre elas, a mais importante, que acabou dirigindo o partido, foram os bolcheviques.  Não eram os únicos revolucionários.  Nem os mais importantes.   Mas eles tiveram a perspicácia de desenvolver métodos de trabalho político clandestino e de organização das massas, que os levaram a depois a serem hegemonia política e ideológica no partido.  Em geral, os manuais da esquerda apenas referenciam a genialidade de Lênin, como se a revolução fosse obra da esperteza política e de discursos inflamados.  Lênin, por sinal era pouco conhecido entre as massas e os militantes. Seus principais escritos circularam com pseudônimos.   O que garantiu de fato a vitória da primeira revolução popular, no campo das condições subjetivas, foi a combinação de um lado, da convicção das ideais socialistas, e por outro, o método de trabalho militante clandestino.  Os bolcheviques não eram mais do que 12 mil militantes, em todo pais.  Mas no auge do ascenso de massas, distribuíam mais de dois milhões de exemplares de seu jornal, de forma clandestina, nas fabricas, colégios, escolas, campos e construções.  Atuavam organizados em células, de 8 a 12 pessoas. Mas essas células estavam organizadas no interior da classe trabalhadora, seja nos espaços das fábricas, nas comunidades aonde moravam os camponeses, nos quartéis, nas escolas e nos espaços intelectuais.   Seu objetivo principal não era apenas fazer  luta ideológica ou se transformar num grupelho iluminado.  Sua tarefa era organizar o povo.  Organizar as ações de massa. Conviver no meio do povo, sentir suas necessidades e organizar a luta social para resolver seus problemas.  Eram os verdadeiros "fermentos"  no meio da massa, para organiza-la, agita-la, e dirigi-la para a luta. E o caráter conspirativo e clandestino que as condições exigiam, talvez tenham contribuído para um espírito de humildade maior, do que se vê nos dias atuais. Muitos de nossos militantes, muitas vezes se propõem a organizar o povo, já tendo como desvio pequeno-burgues de querer liderá-los. Os lideres não se candidatam. O povo escolhe a partir da confiança construída no dia a dia da luta.
 
Agiam com profissionalismo na divisão de tarefas.  Tinham um profundo espírito de sacrifício, que implicava realizar suas tarefas militantes na clandestinidade, nos horários de folga do duro trabalho.  Muitas vezes em condições insalubres do rigoroso inverno russo. Atuavam com um amor a causa, impressionante.
 
Dedicavam-se ao estudo. É impressionante até o hoje, o nível dos artigos dos jornais da época e do debate que se travava nos núcleos. Essa natureza da militância revolucionária, é que Lênin mais tarde classificou de "profissionais da revolução". E que infelizmente algumas correntes contemporâneas interpretam apenas como "liberar os militantes para o trabalho político". O aspecto profissional, era no sentido de que cada militante fazia sua tarefa com esmero e perfeccionismo. E por outro lado, transformavam a ação em prol da revolução como uma missão, como uma profissão de fé.
 
Então, acredito que há um enorme legado dos militantes russos, que nos deixaram de lições e aprendizados de sua experiência concreta,  para as gerações atuais e futuras. Deles devemos recolher, o espírito de sacrifício, a dedicação, o espírito conspirativo, o amor ao estudo, e a organização celular, levada a todos os espaços aonde o povo vive. Mais do que palavras de agitação e referencia aos líderes, é hora de aprendermos com a militância que de fato fez a primeira revolução popular da historia da humanidade.
 
João pedro stedile, 21 outubro de 2007

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